17 de abril de 2018

CARTA BOMBA DE ANTONIO PALOCCI - Após desafio de Palocci, petistas podem ser tratados como cínicos. "Vão continuar fingindo que Lula é honesto?"


Após desafio de Palocci, petistas podem ser tratados como cínicos. "Vão continuar fingindo que Lula é honesto?"

Em documento histórico, o ex-ministro Antonio Palocci sepulta definitivamente o cinismo dos petistas que ainda insistem em defender o indefensável. 

Como fundador do PT, auxiliar direto e administrador de negócios do ex-presidente Lula durante mais de 30 anos, Palocci está plenamente revestido da autoridade para dar um basta na farsa que perdura há mais de três décadas. 

A codificação da carta escrita por Palocci abaixo.



Curitiba/PR, 05 de Abril de 2018.

Ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
AIC Sra. Presidente GLEISI HOFFMANN

Senhora Presidente,

Soube pela imprensa da abertura do processo disciplinar pelo PT—RP,
bem como de minha suspensão pelo Diretório Nacional por 60 dias. 

Confesso minha estranheza sobre o conteúdo do referido processo. 

Neste último período, havia me preparado para enfrentar junto ao partido um procedimento de natureza ética frente a recente condenação que sofri na 13ª Vara Federal de Curitiba, pelo DD. Juiz Sérgio Femando Moro. 

Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. 

Mas nada recebi sobre isso.

Recebo agora as notícias de abertura de procedimento e'tioo em razão das minhas declarações no interrogatório judicial ocorrido no último dia 06/09/2017, sobre ilegalidades que cometi durante os governos de nosso partido.

O pro-adimento questiona minhas afirmações a respeito do ex-Presidente Lula. Sobre isso, tenho a dizer que:

1) Há alguns meses decidi colaborar com a Justiça, por acreditar ser este o caminho mais correto a seguir, buscando acelerar o processo em curso de apuração de ilegalidades e de reformas na legislação de procedimentos públicos e na legislação partidária-eleitoral, que reclamam urgente modernização.

2) Defendo o mesmo caminho para o PT. Há pouco mais de um ano tive 
oportunidade de expressar essa opinião de uma maneira informal a Lula e Rui 
Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade transmitia uma 
proposta apresentada por João Vaccari, para que o PT buscasse um processo de 
leniência na Lava Jato.

3) Estou disposto a enfrentar qualquer procedimento de natureza ética 
no partido sobre as ilegalidades que cometi durante nossos govemos, as razões 
e as circunstâncias que me levaram a estes atos e, mesmo considerando a força 
das contingências históricas, suportar pessoalmente as punições que o partido 
julgar cabíveis.

4) Não vejo possibilidade, entretanto, de colaborar no processo aberto pelo partido sobre minhas afirmações quanto às responsabilidades do ex-Presidente Lula nas situações citadas por ocasião do interrogatório de 06/09/2017. Isso porque tais questões fazem parte do processo de negociação com o MPF, e tal procedimento encontra-se envolto em sigilo legal. Foi por isso que naquela oportunidade limitei-me a fatos relacionados àquele processo.
Dito isto, declaro minha disposição de responder aos questionamentos do partido
sobre qualquer tema, logo após os prazos legais.

5) De qualquer forma, quero adiantar que, sobre as informações prestadas em 06/09/2017 (compra do prédio para o Instituto Lula, doações da Odebrecht ao PT, ao Instituto e a Lula, reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a campanha de 2010, entre outros) são fatos absolutamente
verdadeiros. São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-Presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no ”mensalão", quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa
dois, e que era assim com todos os partidos. 

Naquela oportunidade ele parou por aí, mas hoje sabemos que e' preciso avançar na abertura da caixa preta dos partidos e dos governos, para o bem do futuro do país.

6) Ressalto que minha principal motivação nesse momento e' que toda a 
verdade seja dita, sobre todos os personagens envolvidos.

7) Sob o ponto de vista político, estou bastante tranquilo em relação a 
minha decisão. 



Falar a verdade e' sempre o melhor caminho. E, neste caso, não 
posso deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção em 
nossos governos e, principalmente, a partir do segundo governo Lula.

Vocês sabem que procurei ajudar no projeto do PT e do presidente Lula em todos os momentos.

Convivi com as dificuldades e os avanços. Sabia o quanto seria difícil passar por tantos desafios políticos sem qualquer desvio éticos.

Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades.

Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo
pleno emprego conquistado, com a aprovação do governo a níveis recordes, com o advento da riqueza (e da maldição) do pré—sal, com a Copa do Mundo,
com as Olimpíadas, ”0 cara”, nas palavras de Barack Obama, dissociou-se
definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso do "tudo pode", do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, 
as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário 
o entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos.

Alguém já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe a luta pelas ideias, a  corrupção prevalece.

 Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeliger, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada vez mais conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados, sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de
 sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão. Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos.

Um dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nos após a
 fatídica reunião biblioteca Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonte
 moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história.

Enfim, é por todas essas razões que não compreendo o processo aberto agora.

Enquanto os fatos me eram imputados e eu me mantive calado não se  cogitava minha
expulsão. Ao contrário, era enaltecido por um palavrório vazio.

Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante dee um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT. Qual o critério do partido? 

Processos em andamento? Condenações proferidas? Se é este o critério, o processo de expulsão não deveria recair apenas contra mim.

Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do "homem mais honesto do pais, e quanto aos presentes e o sítios, , os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?

Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?


Chegou a hora da verdade para nos. De minha parte, já virei essa página.

Ao chegar ao porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta.

Depurar e rejuvenescer o partido, recriar a esperança de um exercício saudável
da politica será tarefa para nossos novos e jovens líderes.

Minha geração talvez tenha errado mais do que acertado.
Ela está esgotada. E é nossa obrigação abrir
espaço a novas lideranças, reconhecendo nossas graves falhas e enfrentando a
verdade. Sem isso, não haverá renovação.

E tenho razões ainda maiores. Nas últimas décadas, sempre me decidi pelo PT, pela
política, e minha família sempre aceitou, suportou e sofreu com isso.

Agora decidi pela minha família! E o fiz com a alma tranquila.

Desde que fundei o PT há 36 anos, em Ribeirão Preto com um grupo de amigos, na
sede do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina, entre 1980/ 1981, dediquei-me
totalmente ao partido, à política e a nossos governos.

Tive a honra e a felicidade de ser vereador e prefeito de minha cidade 
por duas vezes.
Tive a honra de servir aos governos de Lula e Dilma. Enfrentei 
como Ministro da Fazenda
uma das mais duras crises econômicas de nossa 
história, mas a competência 
de meus
assessores permitiu um trabalho com fortes
e duradouros resultados.

Nunca supus que o governo tenha desandado 
com minha saída em 2006.


Na verdade, o caminho até a crise de 2008 foi, do 
ponto de vista do projeto de desenvolvimento, de grande sucesso.



Mas, como o 
ovo da serpente, já se via, naqueles melhores anos, a peçonha da corrupção se 
criando para depois tomar conta do cenário todo.

Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral.

Assumo toda as minhas responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos erros, nos trabalhos honrados e nos piores atos de ilicitudes, nunca estive sozinho. 



Por isso concluo:

l) Continuo a apoiar a proposta de leniência do PT.

2) Após respeitar os prazos legais de sigilo quanto a minha colaboração com a justiça,
terei toda a disposição para esclarecer e depor perante o partido sobre todos esses temas.

3) Com humildade, aceitarei qualquer penalidade aprovada. Mas ressalto
que não posso fazê-lo neste momento e neste formato proposto pelo partido onde quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete.

Por todas essas razões, ofereço a minha desfiliação, e o faço sem qualquer ressenti-
mento ou rancores. 

Meu desligamento do partido fica então à vossa disposição.

Saudações cordiais,

ANTONIO PALOCCI

Nenhum comentário:

Postar um comentário